CUIDADOS COM FILHOTES DE CÃES
I - INTRODUÇÃO
O cão há séculos vem acompanhando a espécie humana em seu desenvolvimento, ligado por laços afetivos, como leais companheiros ou até mesmo como fonte de renda, no caso de criadores comerciais. Contudo, apesar dos longos anos de convivência, o ser humano ainda encontra dificuldades em fornecer os cuidados mínimos necessários à vida reprodutiva de seu animal, como alimentação da cadela gestante, preparativos e cuidados durante o parto e acompanhamento do filhote.
O presente trabalho tem como objetivo esclarecer os proprietários de cães sobre a importância de algumas medidas simples, de baixo custo, mas que podem refletir diretamente sobre o bem-estar não só dos filhotes, como também da fêmea gestante.
II - CUIDADOS ANTES DO NASCIMENTO
2.1 - ESCOLHA DOS PAIS
O início da vida reprodutiva da cadela ocorre, em média, em torno de seis a oito meses de idade (quando ocorre o primeiro cio), porém, o primeiro cruzamento deve ser feito a partir do terceiro cio, quando a cadela se encontra sexualmente madura, evitando-se assim, problemas da gestação e no parto.
A escolha do macho deve ser feita de forma cuidadosa, evitando-se animais parentes (irmãos com irmãs, pais com filhos), falta de compatibilidade entre tamanhos (machos muito grandes para fêmeas muito menores).
O acompanhamento veterinário dos pais deve ser realizado de modo a prevenir as doenças sexualmente transmissíveis e alterações genéticas que possam futuramente comprometer o bem-estar dos filhotes.
2.2 - PRÉ-NATAL
Existem diversos cuidados a serem tomados com a fêmea gestante, de forma a garantir um parto seguro e o bem-estar da cadela e dos filhotes.
A data prevista de parto é um dado de extrema importância; para isso o proprietário deve saber os dias em que ocorreram os cruzamentos, a fim de prever, aproximadamente, o dia em que a cadela irá parir.
A gestação da cadela varia de 58 a 66 dias. Desta forma, gestações que se apresentem fora do período normal devem ser invariavelmente encaminhadas ao médico veterinário. O proprietário deve reconhecer a importância do acompanhamento da gestação (mesmo que normal) por um veterinário, para que este tome os cuidados, como nutrição adequada da gestante, controle parasitário (carrapatos, pulgas, vermes, etc.) e vacinação.
A partir de exames mais elaborados, tais como raio-x, ultra-som e exames clínicos convencionais, pode-se avaliar se a cadela está realmente gestante, o número de filhotes e viabilidade dos fetos.
2.3 - PREPARATIVOS PARA O PARTO
O momento da parição deve ser acompanhado de alguns cuidados que proporcionem conforto e que preservem a saúde da cadela e de seus filhotes. Um destes cuidados é a caixa de cria, onde a cadela deve ser instalada pelo menos uma semana antes do parto, para que possa acostumar-se com a caixa e com o ambiente. Ela deve ser colocada em lugar tranqüilo, aquecido, com ar fresco (sem correntes de ar), seco e livre de insetos, evitando-se a presença de outros animais e o trânsito excessivo de pessoas. Suas dimensões devem permitir a livre movimentação da cadela, e seu fundo poderá ser forrado com jornais velhos, papelão ou panos que permitam o aquecimento, o conforto e uma eficiente e barata limpeza do local. A altura da caixa deverá ser suficiente para que a mãe entre mas com paredes laterais para evitar que os filhotes saiam (20 a 30cm de altura). Deverá ainda ser afastada do solo, com abertura na parte lateral e inferior para limpeza e escoamento das excretas (urina e fezes). Lateralmente, devem-se colocar barras de madeira para refúgio e proteção dos filhotes, evitando, assim, o esmagamento e traumatismos.
Algumas cadelas podem fazer seus próprios ninhos em locais escolhidos por elas, como embaixo de tanques de lavar roupa, garagens, embaixo de móveis, buracos em quintais, utilizando panos velhos e papéis que eventualmente encontre à sua disposição.
Todos esses cuidados devem ser tomados a fim de proporcionar ao animal o mínimo de estresse, evitando problemas como rejeição, falta de leite e até mesmo o canibalismo (ingestão dos filhotes).
III - O PARTO
É de extrema importância que, ao chegar a data prevista para o parto, o dono esteja atento ao momento da parição para providenciar tudo o que a cadela precisar. Para isto, o proprietário deve saber qual o comportamento da fêmea neste momento e como o parto ocorre de maneira natural.
3.1 - COMPORTAMENTO DA FÊMEA
Usualmente, ela torna-se agitada, muda de posição e normalmente procura lugares tranqüilos e escuros, podendo arrastar-se para baixo de cadeiras e outros móveis.
Imediatamente antes da parição, o animal cata papéis, roupas e outros objetos para fazer o ninho. O dono deve tomar cuidado, pois algumas cadelas podem se tornar agressivas nesta hora, ao passo que outras preferem a presença do dono.
3.2 - TRABALHO DE PARTO
O parto é o processo final da gestação e consiste em alterações hormonais, modificações corporais, como o aumento dos quadris para facilitar o nascimento, e o aumento do volume da vulva; estes fatores acabam por facilitar a expulsão dos filhotes do organismo materno. Nesta época, a cadela já deverá apresentar secreção de leite, pois as glândulas mamárias começam a se desenvolver a partir do segundo mês de gestação.
Quando se inicia o nascimento, a fêmea começa a ter contrações abdominais, o filhote começa a ser expulso e a primeira parte a ser vista é a bolsa amniótica (bolsa de água), com um pouco de líquido. Em seguida, a cadela inicia a retirada da placenta, que recobre o filhote e começa a lambê-lo; este ato promove a estimulação deste, além de secá-lo.
O primeiro filhote geralmente nasce entre 20 e 30 minutos após o início das contrações e os nascimentos subseqüentes podem variar de até duas a três horas, podendo chegar até a seis horas nos últimos filhotes.
3.3 - AUXÍLIO DO PARTO
Nos casos de cadelas inexperientes (primeiros partos), pode haver uma inabilidade na retirada dos envoltórios fetais (placenta); nos casos também em que os filhotes demorem a nascer pondo em risco a sua sobrevivência, o auxílio ao parto deve ser feito por um médico veterinário, pois manobras de ajuda realizadas por pessoas leigas podem pôr em risco a vida dos filhotes.
IV - CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO
Os proprietários devem estar atentos aos filhotes recém-nascidos, pois estes são muito frágeis; qualquer descuido ou intercorrências podem provocar sua morte.
Alguns cuidados básicos devem ser tomados para diminuir as taxas de mortalidade dos filhotes, como, por exemplo, o auxílio para a ingestão do colostro (secreção inicial das glândulas mamárias, secretada logo após o parto) e o aquecimento dos filhotes.
Ao nascimento, os filhotes apresentam sistema imunológico ainda não completamente desenvolvido, estando fortemente suscetíveis a doenças. Esta deficiência imunológica é suprida pela ingestão de colostro, que é rico em anticorpos, que promovem a defesa do organismo do filhote, devendo ser ingerido imediatamente após o parto, ou o mais cedo que o filhote o consiga fazê-lo, não devendo nunca ultrapassar nove horas após o nascimento.
Sabe-se que os recém-nascidos não têm capacidade de controlar sua temperatura corporal, estando sujeitos a variações de temperatura ambiental (muito quente ou muito fria) que podem afetá-los. Portanto, devem ser mantidos aquecidos pelo contato direto com a mãe ou de forma artificial.
A habilidade dos filhotes em eliminar fezes e urina também pode gerar problemas, pois os estímulos externos são necessários para isso. A mãe geralmente lambe os orifícios excretores (ânus e genitais externos do filhote) para estimular essas funções, que também podem ser estimuladas artificialmente em casos de filhotes órfãos. Estes cuidados serão esclarecidos no item a seguir.
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